4/15/2008

Poesias

Por amar tanto o mundo
É que o sonho me atrai.

Por amar tanto a paz
É que à guerra me dou.

Por amar tanto a vida
É que a morte não temo.

Armindo Rodrigues



Pensamento

“Do rio que tudo arrasta,
Se diz que é violento.
Mas, ninguém diz violentas,
As margens que o comprimem.”

Bertold Brechet


“Notícias do Bloqueio”

Aproveito a tua neutralidade,
o teu rosto oval, a tua beleza clara,
para enviar notícias do bloqueio
aos que no continente esperam ansiosos.

Tu lhes dirás do coração o que sofremos
Nos dias que embranquecem os cabelos...
tu lhes dirás a comoção e as palavras
que prendemos – contrabando – aos teus
cabelos.

Tu lhes dirás o nosso ódio construído,
Sustentando a defesa à nossa volta
- único acolchoado para a noite
florescida de fome e de tristezas.

Tua neutralidade passará
por sobre a barreira alfandegária
e a tua mala levará fotografias,
um mapa, duas cartas, uma lágrima...

Dirás como trabalhamos em silêncio,
como comemos silêncio, bebemos
silêncio, nadamos e morremos
feridos de silêncio duro e violento.

Vai pois e noticia com um archote
Aos que encontrares de fora das muralhas
o mundo em que nos vemos, poesia
massacrada e medos à ilharga.

Vai pois e conta nos jornais diários
ou escreve com ácido nas paredes
o que viste, o que sabes, o que eu disse
entre dois bombardeamentos já esperados.

Mas diz-lhes que se mantém indevassável
o segredo das torres que nos erguem,
e suspensa delas uma flor em lume
grita o seu nome incandescente e puro

Diz-lhes que se resiste na cidade
desfigurada por feridas de granadas
e enquanto a água e os víveres escasseiam
aumenta a raiva
e a esperança reproduz-se.

Egito Gonçalves (1922 – 2001), revista árvore 1952


“ A separação definitiva, sem probabilidade de volta, só se pode levar a cabo num período de serenidade, quando não há no horizonte a menor sombra de traição, quando se pode olhar na alma um do outro como numa água clarificada em que nenhum abalo faça subir à tona velhas escórias de recordações turvas ou de sentimentos impuros.”

A virgem de 18 quilates
Pitigrilli


Oh! Tocadora de harpa, se eu beijasse
Teu gesto sem beijar as tuas mãos...

Fernando Pessoa



Vivi com entusiasmo adolescente a Revolução do 25 de Abril de 1974, hoje 30 anos volvidos, compreendo “os lentos canais em que a civilização se deposita”

Abril de 2004

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